Cyberpunk nunca morre
por Filipe Lutalo
Quando pensamos em RPG de mesa, três grandes pilares costumam dominar o imaginário dos jogadores: Fantasia Medieval, Horror e Cyberpunk. Este último, embora menos popular que os mundos de espadas e dragões, oferece uma experiência intensa, crítica e profundamente atual — e merece ser redescoberto.
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O termo “cyberpunk” foi cunhado em 1983 por Bruce Bethke em seu conto homônimo. Segundo Lemos (2004, p.12), trata-se de um movimento literário da ficção científica surgido nos Estados Unidos na década de 1980, que combina alta tecnologia com caos urbano. É uma visão provocadora — e muitas vezes sombria — de como a humanidade interage com a tecnologia em um futuro próximo.
Entre os temas recorrentes estão o impacto negativo da tecnologia na sociedade, a ascensão das megacorporações (corporocracia), o anti-heroísmo, a cultura do submundo, o acesso irrestrito à informação e o culto ao estilo e às marcas. Esses elementos não apenas definem a literatura cyberpunk, mas também moldam os RPGs inspirados nesse universo.
Se você está em busca de algo além das masmorras e dragões de sempre, aqui estão cinco RPGs cyberpunk que merecem sua atenção:
Cyberpunk 2020 e Cyberpunk RED
Cyberpunk 2.0.2.0., lançado pela R. Talsorian Games e traduzido no Brasil pela Devir em 1996, é um clássico absoluto do gênero. Ambientado em um futuro distópico onde corporações dominam o mundo, ciborgues patrulham as ruas e a violência urbana é rotina, o jogo oferece arquétipos marcantes, um sistema robusto de atributos e perícias, além de equipamentos e implantes cibernéticos que moldam a experiência de jogo. O sistema de Fluxovida enriquece a criação de personagens com histórias pessoais densas e dramáticas. Sua versão mais recente, Cyberpunk RED, atualiza o cenário e as mecânicas, mantendo a essência do universo enquanto o conecta ao popular jogo eletrônico Cyberpunk 2077.
GURPS Cyberpunk
Lançado em 1990, GURPS Cyberpunk é um dos suplementos mais icônicos do sistema GURPS. Ele transporta os jogadores para um mundo de alta tecnologia, violência urbana e fusão entre homem e máquina. Com elementos como próteses biônicas, netrunners e inteligências artificiais, o livro mergulha fundo na cybercultura. Um dos capítulos mais notórios, sobre invasões cibernéticas, chegou a gerar polêmica real: o FBI chegou a confiscar computadores da editora por suspeita de incentivo ao hacking. O suplemento também oferece ferramentas para criar cenários futuristas — como o exemplo de Belo Horizonte 2121 — e conduzir campanhas intensas e provocativas.
Retropunk
Retropunk é um RPG narrativo ambientado em um mundo retrofuturista onde o digital e o real se fundem por meio de neurochips implantados ao nascer. Nesse cenário opressor, dominado por megacorporações, consumismo extremo e desigualdade social, os jogadores interpretam os “Defeitos” — rebeldes que hackearam seus chips para escapar do controle sistêmico. Com três classes (Especialistas, Potentes e Alternadores) e um sistema de rolagem baseado em pilhas de dados d6 com camadas de sucesso e complicações, o jogo convida à resistência e à contracultura. É uma homenagem direta a obras como Blade Runner, Ghost in the Shell e Altered Carbon.
Interface Zero
Interface Zero 2.0 é um RPG cyberpunk movido pelo sistema Savage Worlds, que oferece uma abordagem ágil e cinematográfica. Os jogadores podem assumir papéis como bioroides, ciborgues, simulacros criados em laboratório, híbridos genéticos, Humanos 2.0 e androides. O jogo permite hackear o mundo ao redor, controlar drones e explorar implantes tecnológicos em um cenário vibrante e moderno. Para jogar, é necessário o livro básico de Savage Worlds. Com 352 páginas em capa dura, escrito por Peter J. Wacks, Interface Zero apresenta uma visão ousada e expansiva do cyberpunk contemporâneo.
Shadowrun
Shadowrun é um RPG que mistura cyberpunk com fantasia urbana, criando um universo único onde tecnologia avançada e magia coexistem. Lançado em 1989, o jogo se passa no chamado Sexto Mundo, um futuro distópico dominado por megacorporações, vigilância constante e desigualdade brutal. Os jogadores assumem o papel de “shadowrunners” — mercenários que operam nas sombras realizando missões clandestinas. O cenário inclui raças fantásticas como elfos, orcs e anões, convivendo com hackers, samurais urbanos e implantes cibernéticos. Atualmente em sua quinta edição, Shadowrun continua sendo uma das experiências mais ricas e influentes do gênero.
Se você está pronto para sair das florestas élficas e mergulhar em becos iluminados por neon, esses cinco títulos são portas de entrada para mundos onde o futuro é sombrio, mas a narrativa é brilhante. Escolha seu sistema, conecte seu neurochip e prepare-se para correr nas sombras.
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