Lobo Loss em... É pro fantástico?!?

Engatilhe sua pistola

por Filipe Lutalo


Caros rpgamers, hoje trazemos para vocês Lobo Loss, um dos mestres do grupo Ethernalys RPG. O cara é professor de artes, autor, ilustrador. Vamos deixar ele falar.

RPGames Brasil: Lobo Loss, de cara, como surgiu esse pseudônimo?

Lobo Loss: no começo dos anos ‘00, no auge do MSN e Orkut, todo mundo teve a oportunidade de criar aquele avatar digital da qual você era conhecido nos grupos e tal. Coloquei na época Lobo, porque, basicamente, já existia uma gama variada de “Wolverines”. Não esperava que acabasse pegando tanto. O Loss saiu por conta do nome do meu primeiro personagem de RPG, um Gangrel chamado Loss. Joguei por um bom tempo com ele e acabei juntando o útil com o agradável. Acabou virando um ótimo nome artístico! Maioria das pessoas não fazem ideia do meu nome de nascença.

R.B.: Nos conta um pouco de quem é você?

Lobo Loss: sou ilustrador, professor de arte e autor do suplemento não oficial que adapta o game The Witcher para o RPG Old Dragon. O suplemento fez tanto sucesso que já está com mais de 4K de downloads no blog do Moostache. Além do suplemento, criei também vários add-ons para o cenário, como fichas personalizadas e mecânicas diferentes para o sistema. Participo de jogos via streaming e podcasts sobre este universo.

Fora o Old Dragon, também crio suplementos para o sistema Storyteller, agora com o lançamento do Vampire: The Masquerade, 5ª Edição.

Fui professor de Concept art e Game Design e ganhei 2 prêmios pela co-criação de dois jogos. Participo de vários eventos como artista promovendo minha publicação em História em quadrinhos, DestiNation , que mistura faroeste e cyberpunk. Por sinal, está em pré-venda no Catarse, de seu segundo volume!

Motoqueiro, fã de faroeste e de whisky, viajo pelo Brasil com a esposa quando a vida deixa.

R.B.: Quando e como começou a jogar RPG?

Lobo Loss: Também foi no começo dos anos ‘00, com o pessoal da Ethernalys RP&G. Na época não nos chamávamos assim, éramos um bando de pessoas entusiasmados por RPG que jogava, literalmente, toda semana. Duas, três, às vezes, quatro vezes por semana estávamos rolando dados. Grande parte era o sistema Storyteller, Vampiro, Lobisomem e, principalmente, uma adaptação nacional para anjos, escrito pelo Deicide, Anjo: A Salvação. Tinha um bocado de
D&D no meio, mas sempre tivemos uma biblioteca vasta, às vezes jogávamos jogos da Daemon, como Arkanun e Trevas, outras vezes tinha Tormenta, 3D&T. Enfim, jogávamos o que tinha disponível e que dava na telha. Acabou que esse hobby juntou a gente e estamos juntos até hoje. As pessoas que conheci nesse meio hoje são meus padrinhos de casamento. Estamos com projetos juntos, a Ethernalys RP&G nasceu dessa união.

R.B: Como foi essa experiência de adaptar o The Witcher para o Old Dragon?

Lobo Loss: Foi outro ponto de virada, mas dessa vez na minha carreira. Estava a um tempo desempregado e não estava produzindo nada. Trabalhava em uma grande rede de escola de arte de São Paulo, como professor de arte e tinha saído a alguns meses. Dei meus 5 minutos de loucura. Subi na moto junto da esposa e metemos o pé na estrada por um mês inteiro. Viajamos para Minas, depois Brasília pra passar o fim de ano, para espairecer a mente.

Na volta, me deu aquele choque de realidade de que não estava produzindo nada a meses e estava ficando louco com o ócio. Nisso, conversando com o Rafael Alves, outro grande nome do RPG e, também, fundador da Ethernalys, conhecendo meu interesse, tantos nos jogos, quanto nos livros do bruxeiro e sendo um conhecedor daquele universo, me deu a ideia de adaptar o The Witcher para Old Dragon, pois não tinha nada a respeito ainda. Ele já havia produzido alguns suplementos para a comunidade e tinha acesso para publicar no Moostache, que é um blog com conteúdo de OD.

No mesmo dia já tinha juntado tudo a respeito que eu tinha e comecei a escrever. Entre texto e ilustrações foi apenas um mês para um projeto de 80 páginas. Parece que eu tinha acordado pra vida de novo, produzindo que nem um louco. Tanto que não parei mais. Depois do Mundo de The Witcher, houve alguns outros suplementos menores, como Fichas Personalizadas, Inventário de Armas, Mapas. DestiNation foi lançado logo depois. Portas foram abertas, contatos foram feitos. Foi um projeto que abriu várias portas. E foi um sucesso entre a comunidade. Hoje ele está com mais de 4k de download. Agora, estou devendo um projeto de Bestiário pro universo e pretendo retornar assim que outros projetos forem saindo.


R.B.: Nos fale desse trabalho de criação de suplementos para o Vampire: The Masquerade, 5ª Edição?

Lobo Loss: Eu tinha visto que ia sair uma 5ª edição de Vampiro: A Máscara e, assim, eu já tinha desencanado de Mundo das Trevas a um tempo. Era um sistema com regras complicadas, cheio de lore que é difícil de acompanhar, com problemas de publicação e tal. E eu tava mais na vibe indie, com regras compactas e simples.

Tanto que quando saiu a edição de 20 anos, eu pulei. Achei bonito e tal, mas nem liguei. Mas o Storyteller sempre foi um sistema que tive um carinho imenso. Foi meu primeiro sistema. O sistema que tive meu primeiro contato com o RPG. Meus amigos mais íntimos foram criados em uma mesa de Vampiro, então sem muita expectativa, eu peguei o playtest lançado a um tempo pra ler. Aquilo explodiu minha mente. Como assim vampiro agora realmente caçava? Tinha uma mecânica pra caçar mesmo. A Fome é algo presente. O vampiro não é só aquele ser, cheio de poder em um universo igual do Underworld. A coisa me fisgou de tal maneira que eu devorava tudo a respeito do novo sistema. Em pouco tempo, adquiri o PDF e comecei a esboçar um suplemento de cenário para uma versão de São Paulo das Trevas. Possuo alguns grupos que estão compartilhando o cenário, o que está sendo muito interessante, pois cada ação cria uma consequência geral, compartilhada por todos os grupos. Tá uma loucura de administrar, mas tá bem bacana ver esse mundo criando forma.

Por enquanto o Storyteller Vault não está aberto a adaptações da 5ª edição, mas a ideia é quando sair, já tenhamos o suplemento de cenário pronto, além de outros mimos que estou preparando.

R.B.: Qual a diferença entre o Vampiro Réquiem e o Vampiro: the Masquerade? Com a chegada da 5ª Edição, acredita que o Vampiro Réquiem será abandonado pelos fãs?

Lobo Loss: Por muito tempo fui um entusiasta do Réquiem. Comprei os romances daquele universo e adorei o modo que eles deram maneiras de você criar e manter sessões e crônicas (como o S.A.S). Dito isso, não acredito que haverá um abandono do sistema, até porque há um grande número de pessoas criando suplementos pro Crônicas das Trevas no Storyteller Vault. Vejo, ainda, o 5ª edição como uma melhora nas mecânicas do Réquiem, mas atualizando o lore da Máscara para nosso cenário político/ social. Acredito que a 5ª edição ainda vai beber muito da fonte do Réquiem, trazendo melhorias de sistema, como rituais e amálgamas de disciplinas, para manter o sistema Crônicas das Trevas vivo por mais um tempo.

R.B.: Quais os cenários e sistemas de regras prefere? O que vem mestrando ou jogando ultimamente?

Lobo Loss: Gosto muito de sistemas que você cria fichas em questão de minutos, sem precisar consultar muito o livro. Acho que o que mais me fascina até hoje é o Dust Devils, que nunca cheguei a jogar. Mas gosto bastante de Old Dragon. A ideia do retroclone, OSR e afins me agrada muito, o Mundo de The Witcher taí pra atestar. Mas jogar mesmo eu tenho um grupo antigo em SP, onde jogamos D&D 3.5. Como mestre, eu tenho usado o Vampiro 5ª Edição nos últimos meses para montar o suplemento. Tenho jogado praticamente a cada 15 dias nos últimos 3 meses.

R.B.: Nos fale um pouco da sua atuação na Ethernalys. O que acha da iniciativa? Quais os desafios de mestrar One-shots?

Lobo Loss: Fui um dos que viu a Ethernalys nascer. Lembro do dia que o Rafael batizou nosso grupo de Ethernalys. Sou o membro do grupo que cuida da parte de design. Criei o design da marca, aplicação de cores e desenvolvimento visual.

Apesar de sempre ter cuidado disso sozinho, hoje já temos um time de designers que cuida das imagens gerais e agora apenas supervisiono e faço coisas mais pontuais. Nos dias atuais estou mais ligado a criação de conteúdo e produtos, como o suplemento de The Witcher e do Vampiro: A Máscara.

Sobre a iniciativa, sempre, desde o começo, definimos que nossa meta como integrantes e jogadores de RPG, foi de difundir o RPG e espalhar o hobby. Ver a proporção que isso tomou me enche de orgulho. Temos pelo menos um evento por mês em BH, contatos com diversos grupos e referência dentro do cenário mineiro de RPG.

Sobre os one-shots, temos mestres dedicados a isso por conta dos eventos. Confesso que mestrei pouquíssimos one-shots e a dificuldade maior é passar o conteúdo para iniciante sem que ele se sinta perdido ao mesmo tempo que passa a essência do sistema em questão. É uma arte equilibrar os dois.




R.B.: Premiado duas vezes na co-criação de jogos. Que jogos foram esses? São RPGs?

Lobo Loss: Trabalhei por quatro anos na SAGA - Escola de Arte, na área de arte para jogos digitais. Lá dentro eles possuem um concurso interno para desenvolvimento de jogos, onde o melhor jogo da rede nacional é premiado. No caso, minha unidade ganhou por dois anos consecutivos. O jogo Dog Day e Edda, que participei com level design, arte para ambiente e assets. Os jogos, infelizmente estavam em alpha ainda e como era só pra concurso, não é disponibilizado. Mas foi uma experiência bem bacana mexer com essa área digital.

R.B.: Estamos vivendo uma redescoberta dos jogos de tabuleiros. Você acredita que esse mercado tende a crescer visto que temos uma geração de jovens adaptados aos jogos de celular e videogame, nascidos na virada do milênio?

Lobo Loss: Acredito que há sim, um interesse maior do público quanto aos jogos analógicos e olha que eu nem falo do público jovem, nascidos na virada do milênio. Acredito que há um interesse maior de uma galera mais velha mesmo, na faixa dos 30/ 40 anos. Muitos de nós voltamos a descobrir os jogos de tabuleiros como uma forma de lazer.

Quando eu era mais novo, tinha acesso apenas a Detetive e War. Hoje você tem uma gama imensa de jogos e estilos que chega a ser interessante visitar amigos e ver quem possui jogos diferentes. Apesar de ainda possuir um custo alto, é um lazer que proporciona um tipo de rejogabilidade constante e vejo muitos grupos de pessoas nessa faixa de idade com vários jogos. Isso fomenta o interesse da galera mais nova, de tabela. Mas hoje, acredito que a maioria dos jogadores analógicos são pessoas mais velhas, que se reúnem em casa e preferem essa diversão mais intimista. E, com toda a crise que temos, muitos de nós tivemos de rever as prioridades no quesito lazer. Não dá pra sair e gastar X valor em uma balada. Mais fácil juntar uma galera em casa, jogar uma partida de um jogo, onde todos se divertem. Nós estamos acostumados com isso, graças ao RPG, mas grande parte das pessoas estão redescobrindo como essa “diversão offline” funciona. E é uma área que teremos algumas novidades da minha parte, mais cedo ou mais tarde, rs.

R.B.: Nos fale de Destination? De onde surgiu a ideia de misturar velho oeste e cyberpunk?

Lobo Loss: DestiNation é uma história em quadrinhos que mistura faroeste com cyberpunk. Ela conta a história de Jeff Van Cypher, um caçador de recompensas ciborgue em busca de vingança contra um cyberxamã. Dentro dessa jornada, apresentamos personagens que povoam o mundo de DestiNation e o ambiente que a história se passa.



A ideia nasceu há alguns anos em uma vontade de parceria entre eu e o Alessio Esteves. Ele é um amigo de longa data e é roteirista e eu, ilustrador. Era natural que algo entre nós nascesse. Conheço ele graças a banda Matanza e do meu apreço ao velho oeste. Eu sou bem fã de filmes antigos de faroeste e ele é uma pessoa muito eclética, fã de quadrinhos e RPG, a gente ficava conversando sobre o tipo de histórias que poderíamos contar. Eu sempre quis contar uma história de faroeste clássica, o cara procurando vingança, cliché mesmo e ele já tinha várias ideias pra uma saga envolvendo um universo cyberpunk.

Nos meados de 2013, eu acho, sentamos em um boteco e de lá saiu esse universo com magia e tecnologia em um ambiente empoeirado cheio de cabos. A ideia era essa história do velho oeste, mas com essas pitadas de cyberpunk. Você ainda tem lá o cara procurando vingança, todo paramentado de pistoleiro, mas com um braço biônico, lutando contra aranhas tecno-orgânicas enquanto monta em um cavalo de aço, por planícies desertas. Queríamos passar a sensação de aridez, ao mesmo tempo que impactar o leitor com páginas com cores vibrantes, com isso veio a ideia de usar sépia nas páginas pontuadas por cores que representam momentos tarantinescos na história.

Foi só em 2018 que lançamos a HQ completa no FIQ - Festival Internacional de Quadrinhos, de Belo Horizonte. O lançamento foi um sucesso e as aventuras de Jeff Van Cypher acabou pegando no público e estamos felizes que as pessoas aceitaram esse universo. Já temos arte do Van Cypher no traço de alguns quadrinistas nacionais que adoraram a proposta e pessoas interessadas em saber mais do passado e da trajetória dele. Com isso temos material pra alguns volumes dentro desse universo, além de ideias para várias outras mídias. O mais legal desse tempo todo de desenvolvimento é que temos material base para trabalhar por muitos volumes e estamos bem empolgados de apresentar esse universo pro público. O segundo volume apresentamos o esperado antagonista Don Juan, um cyber-xamã e temos mais um pouco do mundo, com facções de motoqueiros e gangues de bandidos. DestiNation #2 já está em financiamento coletivo pelo Catarse, e quem não conhece o universo, tem a oportunidade de adquirir o primeiro volume, junto com o segundo, além de outras recompensas marotas (incluindo uma ilustração personalizada por mim)!

R.B.: Já pensou em produzir um cenário de RPG tendo pano de fundo o Destination?

Lobo Loss: Como pessoas oriundas do RPG, é natural estarmos montando todo esse universo para, um dia, lançar o RPG baseado nele, mas queremos agora contar a história de Jeff Van Cypher e mostrar o que o mundo tem a proporcionar.

Depois que as pessoas estiverem a par de todo esse universo, a gente entra em uma “Fase 2” do projeto, até por que muita coisa que entraria em um livro de RPG, poderia tirar as surpresas que estamos preparando nas HQ’s. Mas, não temam, DestiNation está apenas começando. Rsrs!

R.B.: Quais suas palavras finais dessa entrevista? Que mensagem gostaria de deixar para os nossos leitores?

Lobo Loss: Primeiro, agradecer a oportunidade de falar um pouco sobre tudo isso, a comunidade de RPG nacional tá em um momento fértil, e fico feliz de ter feito essa escolha de entrar e permanecer nesse mundo.

A todos que acompanham o blog e leram a entrevista, pega os teus amigos, baixa alguns dos vários livros de sistemas gratuitos na internet hoje em dia e vão rolar dado. Vão criar histórias, personagens e momentos com os quais você se identifique, que as pessoas que você gosta se identifiquem. Essas histórias marcam, em maior ou menor grau. Se não tiverem grupos, procurem os que já existem na sua cidade. Em Belo Horizonte, temos a Ethernalys RP&G, que a anos está fomentando, junto com outros grupos, como Quartel do RPG e RPG BH, com eventos quase semanais na cidade. Hoje a tecnologia permite que jogamos online, em grupos de Discord e Roll20, sempre é uma alternativa, caso você não possua um grupo perto.

E nos acompanhem! Acompanhe a Ethernalys RP&G nas redes para novidades de eventos. Me acompanhe nas redes pra novidades em RPG, quadrinho, jogos de tabuleiro e digitais. Temos o Catarse do DestiNation #2 bombando e dependemos da ajuda de todos, seja apoiando e/ou compartilhando, para que esse volume 2 saia. Confere lá que tá bem legal!

No mais, agradeço a todos os envolvidos por eu estar presente na cena de RPG e vamo que vamo!

RPGames Brasil: agradecemos a maravilhosa entrevista que nos concedeu tão gentilmente. Esperamos muito para o volume 2 de Destination, mais suplementos de RPG e que sua vida artística continue fértil. 



6 comentários:

  1. Filipe manda bem como sempre em suas entrevistas e dando oportunidade espaço para autores da nossa cena. Parabéns pela matéria.

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    1. Obrigado, Walison. Essa é umas das colunas que mais gosto de escrever. Sempre me surpreendo com os entrevistado.

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  2. Acabei de fazer o meu apoio lá no Catarse ao Destination 2, pra fazer companhia à minha primeira edição. O Lobo e o Alessio mandam bem demais!

    Inclusive, se não fosse por esta matéria, não saberia que tá rolando um FC da segunda edição de Destination. Portanto meus parabéns também vão pra vc Filipe, por mais esta grande entrevista!

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    1. Obrigado José e, quando me dará o ar da graça aqui no É pro fantástico...?

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