Marcos F. Vitsil em… é pro Fantástico?!?


Entrevista com o autor de Crônicas de AWA

por Filipe Lutalo


Hoje vamos trazer uma entrevista com Marcos F. Vitsil, escritor do livro e do projeto As Crônicas de AWA, lançado em novembro de 2020, pela Editora Recriar. Esse é o primeiro livro do autor que ”se desenvolve num mundo fictício de RPG medieval e apresenta aventuras repletas de magias sombrias, heróis lendários, guerras épicas e feras mitológicas, (...) o folclore brasileiro e a vasta mitologia tupi-guarani.”

RPGames Brasil: Nos fale um pouco sobre você. Quem é Marcos F. Vitsil?

Marcos F. Vitsil: eu sou um rapaz apaixonado pela cultura “geek” que cresceu no subúrbio carioca próximo a algumas comunidades. Minha mãe não me deixava sair para brincar na rua por causa da violência e isso foi preponderante para que eu desenvolvesse a criatividade durante a infância. Eu brincava sozinho, criava os personagens, diálogos, reinos etc. Meus brinquedos não eram super modernos, muitas vezes eram simples folhas de papel que eu amassava e transformava em grandes personagens na minha imaginação.

Eu cresci, me tornei professor, mas nunca abandonei o viés criativo. Eu almejava transformar a escola em algo diferente do tradicional, queria deixá-la mais dinâmica e divertida. As melhores recordações da minha infância eram das brincadeiras nos momentos de recreação na escola. Isso me levou a uma reflexão: “Por que esses momentos de diversão eram destinados apenas a “hora do recreio”? Toda a experiência da escola poderia ser mais divertida, sem afetar a questão pedagógica, na verdade até aprimorando-a. Com isso, sempre quis deixar minhas aulas tão legais quanto a hora do recreio.

Portanto, para resumir, eu me considero um RPGista sonhador e apaixonado ela educação.

Reprodução do Instagram


R.B.: As Crônicas de AWA é um RPG ou literatura?

Marcos F. Vitsil: Na verdade são as duas coisas. As Crônicas de AWA são uma saga de livros que podem ser consumidos por qualquer leitor apaixonado pelo gênero fantasia. A saga apresenta o mundo fictício de AWA, com seus reinos, raças, idiomas etc.

Em paralelo a aventura narrada na saga, estou desenvolvendo um aplicativo com a lista de magias, os atributos das raças, os mapas e um tutorial para que seja possível jogar um RPG de mesa a partir do universo de AWA.

Portanto, os dois projetos caminham em paralelo e se complementam.

R.B: Como surgiu essa ideia?

Marcos F. Vitsil: A ideia surgiu numa aula sobre os biomas brasileiros numa turma do 7° ano. No meio da aula decidi criar uma aventura fictícia para os alunos conhecerem os diversos biomas. A ideia deu certo e os alunos passaram a pedir isso em todas as aulas.

Com o tempo fui desenvolvendo os cenários, os personagens – muitos deles inspirados em alguns alunos – e as histórias começaram a fluir.

R.B.: Como você aplica o RPG e o projeto As Crônicas de AWA no ensino de Biologia?

Marcos F. Vitsil: A biologia está inserida em todo o mundo fictício de AWA, seja na cor das raças (algumas são verdes por fazerem fotossíntese), no nome dos reinos, dos deuses e de alguns personagens.

A ideia é criar campanhas de RPG em que os conhecimentos de biologia sejam importantes para a conclusão da missão, por exemplo: um grupo de aventureiros tentando descobrir a origem de um parasita que vem devastando um reino, ou um grupo de náufragos lutando contra um cnidário gigante...

No final da campanha, o aluno desenvolveu vários conhecimentos de biologia e nem percebeu. O mais legal é que eles não esquecem o que fizeram no jogo e isso facilita no aprendizado e na memorização de conceitos.

Reprodução do Instagram

R.B.: Quais RPGs utilizou como referência para construir As Crônicas de AWA?

Marcos F. Vitsil: Eu utilizei sistemas de RPGs clássicos como D&D para construir a estrutura do aplicativo do RPG de As Crônicas de AWA, fiz apenas algumas adaptações para se encaixar na minha proposta pedagógica. Eu também utilizei muito a “Terra Média” de Tolkien – pois sou muito fã – como pano de fundo para alguns cenários. Eu costumava jogar RPGs de “O Senhor dos Anéis” em sistemas de D&D na infância.

R.B. Quando e como começou a jogar RPG?

Marcos F. Vitsil: Eu fui apresentado ao RPG com 9 anos de idade por um primo. A experiência foi tão marcante naquele dia que eu tive uma crise de sonambulismo e meus pais disseram que eu falava frases desconexas como “eu sou um elfo” e “preciso derrotar os trolls”. O primeiro RPG que joguei foi o “Tormenta”. Os cenários de fantasia medieval sempre foram os meus favoritos.

Depois que entrei para a faculdade eu me afastei do RPG e me mantive distante por alguns anos devido à falta de tempo. Este projeto tem me reaproximado desta antiga paixão e tem me proporcionado ensinar o RPG de mesa a outros jovens que ainda não o conheciam. Essa experiência tem sido fantástica.

R.B.: Qual o diferencial de As Crônicas de AWA frente aos RPGs mais clássicos?

Marcos F. Vitsil: O RPG de As Crônicas de AWA apresenta três diferenças bem significativas.

A proposta pedagógica: diferente dos RPGs mais clássicos, nosso RPG possui um viés pedagógico além de entretenimento. Logo, ele junta aprendizado e a diversão típica dos RPGs clássicos.

Valorização da cultura nacional: a maioria dos RPGs clássicos utiliza cultura importada de mitologias celta, nórdica, grega etc... Todavia, As Crônicas de AWA, utiliza mitologia tupi-guarani e o folclore nacional. Isso faz toda a diferença em nossos cenários de RPG.

Inclusão: alguns personagens da saga são inspirados em alunos com necessidades especiais, como autismo e algumas síndromes. Isso tem gerado representatividade e tem dado muito certo durante as aulas. Tenho uma aluna autista que tem evoluído bastante sua capacidade de interação social durante as aulas com RPG.

Personagens baseados nos próprios alunos. (Reprodução do Instagram)

R.B.: A metodologia de As Crônicas de AWA pode ser utilizada em outras disciplinas?

Marcos F. Vitsil: Sim! Esse é o mais legal do projeto, ele é ilimitado com relação a isto. Eu já estou o utilizando para dar aulas de química e física também.

Alguns amigos professores de história e literatura também já estão pensando em utilizá-lo em suas turmas.

Se o professor for criativo, o RPG de As Crônicas de AWA pode ser utilizado em qualquer disciplina.

R.B.: Marco, muito obrigado pela entrevista. Desejamos muito sucesso com o projeto, acreditamos que é uma grande contribuição para a educação e para o RPG brasileiro. Qual sua mensagem final para os leitores do RPGames Brasil?

Marcos F. Vitsil: Eu que agradeço pelo convite. Minha mensagem final é: “Nunca deixem de acreditar nos seus sonhos”, um dia acreditei que a escola poderia ser um ambiente mais divertido e estou conseguindo fazer isso em minhas turmas.

Todo aprendizado fica mais legal quando existe diversão, o RPG não é apenas entretenimento, ele também é educação.





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