Pare de criar personagens órfãos


Use a família dos personagens para aumentar suas possibilidades de roleplaying

Por Filipe Lutalo


Quantas vezes você se deparou com personagens dos jogadores que tiveram uma infância trágica e toda a família foi assassinada por uma entidade do mal? Com um pouco de criatividade, isso pode ser diferente e trazer elementos interessantes para a sua mesa de RPG.


Eu e meus amigos jogamos GURPS por longos anos. Passamos pelos gêneros de fantasia medieval, cyberpunk e viagens espaciais e velho oeste. Jogamos também Vampiro: a máscara, Lobisomem: o apocalipse e Mago: a ascensão. Apesar de cenários bem diversos, a orfandade era comum entre os personagens.

Por que meu personagem é órfão?

A decisão dos jogadores em terem personagens órfãos e, de preferência que a família tinha passado por um fim trágico, era uma forma de escapar de possíveis problemas durante a aventura. Por exemplo, um inimigo surge, mas está com algum parente do PdJ como refém. Um fator complicador, não?


Jogos como o GURPS e o Vampiro possuem uma mecânica, associada a desvantagens, para simular o quanto um ente querido dos personagem do jogador (PdJ) poderia complicar a vida dele na aventura. Essas desvantagens inserem elementos de interpretação bem interessantes e retribuem os jogadores com pontos extras para comprar outras habilidades. Mesmo assim, os jogadores passavam longe delas.

Outro fator que contribui para os jogadores criarem personagens com fins trágicos são as histórias dos ícones da cultura GEEK. Vários super-heróis perderam a suas famílias de forma tão trágica que isso moldou a sua personalidade. O planeta de Kal-El, Kripton, se autodestruiu quando seu núcleo entrou em colapso; poucos se salvaram. O garoto enviado para terra foi batizado pelos seus pais adotivos como Clarck Kent e se torna o Super-homem.

Vários heróis e vilões tem histórias de tragédia na família.

Bruce Waine (Batman); Davion Dragon Knight, Seya Pegasus, Naruto Uzumaki, Mulher-Gato, Homem-Aranha, Pantera Negra, Ciborgue são personagens que, somados a muitos outros possuem uma criação trágica relacionada a perda da família.

Personagens Órfãos são uma boa?

À primeira vista, criar personagens órfãos pode ser uma boa. Dá ao jogador um ar de liberdade. Entretanto, parentes próximos podem ser bem aproveitados nas aventuras de RPG como motivações, aliados, patronos ou até inimigos.

A família pode ser um poderoso aliado.

Os pais podem ser um patrono, um indivíduo poderoso que fornece armas e equipamentos para o personagem. Ele pode ser um contato também, que limita-se a receber os filhos e passar algum boato para eles.

No sistema GURPS, entes queridos que precisam de proteção podem ser adquiridos como dependentes e render alguns pontos extras para o personagem adquirir outras habilidades. Dependendo da frequência que esse dependente interage com o personagem, a quantidade de pontos pode ser útil para eliminar um excesso de desvantagens mentais que acabam deixando o personagem super instável. Por fim, os pais ou um ex-cônjuge poderiam ser um inimigo desse personagem, trazendo um toque muito dramático para a aventura.

Pais e irmãos que pareciam estar mortos podem surgir como aliados eventuais ou inimigos mortais.

Surpresa, nem todos morreram!

Apesar da história do personagem construída pelo jogador indicar que todos os seus parentes morreram naquele ataque a vila, algum ente querido pode ter sobrevivido. O reencontro, se bem construído, pode gerar empatia com o personagem do mestre (PdM), criar uma tensão e ser uma clímax da aventura. Luke Skywalker achava que era um órfão criado por seus tios, mas acaba descobrindo que é filho de Anakyn (Darth Vaider) e da senadora Padmé Amidala. Para completar descobre que é irmão da Princesa Leia.

Em minhas campanhas, surpreendo os jogadores órfãos com descobertas chocantes: “você encontra uma carta da rainha indicando que você é a filha bastarda dela, ou seja, irmã rei Conall”. Essas viradas nas histórias dos personagens podem trazer novos ganchos para a aventura e mostrar aos jogadores que eles não são simplesmente o filho de um ferreiro desconhecido.


Manter os familiares dos personagens dos jogadores vivos podem ser uma abertura para uma nova campanha, viradas de enredo, pontos extras de experiência que elimina uma sobrecarga de desvantagens mentais, inimigos que deseja se vingar dos personagens. As opções são inúmeras. Use a imaginação.

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Gostou da postagem, deixe um comentário. Nos fale de um herói que gosta que tem família, ou que a perdeu em um acidente trágico.

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Referencias bibliográficas:

https://naruto-pedia.fandom.com/pt-br/wiki/Naruto_Uzumaki#Passado

https://www.einerd.com.br/mulher-gato-poderes/

https://marvel.fandom.com/pt-br/wiki/T%27Challa_(Terra-616)

https://canaltech.com.br/celebridade/bruce-wayne/#:~:text=Sua%20hist%C3%B3ria%20teve%20in%C3%ADcio%20ap%C3%B3s,her%C3%B3i%20da%20cidade%20de%20Gotham.

https://starwars.fandom.com/pt/wiki/Padm%C3%A9_Amidala





7 comentários:

  1. Clássico que impera nos backgrounds dos personagens, não sei se é por falta de criatividade ou praticidade para sair se aventurando pelos cenários a fora. As vezes cogito também a questão do comparar com o real e o próprio jogador elimina a possibilidade dos narradores sádicos matarem seus entes em primeiro grau, claro como narrador experiente, não vejo isso como uma boa opção de dar motivo ao jogador sair em busca de vingança ou de destruir o mal, tem milhares de maneiras de fazer isso.
    Por mais que as narrativas não rode muito dentro de momentos famílias dos personagens jogadores, sempre tem outras opções melhores de lhe dar e divertidas, afinal, imagina pesar a onda do Guerreiro de 10° nível do grupo com sua mãe perguntando se ele não esqueceu a merendeira em casa....rsrsrs


    Parabéns Filipe por mais uma matéria.

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    1. Uia, tô anotando essa idéia da mãe e da merendeira pra usar em alguma aventura de Pequenos Aventureiros kkkkkkkkkkk!

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    2. Acho que a cultura GEEK incentiva. A maior parte dos heróis não possuem família. Você não precisa se preocupar com o passado, apenas com o presente do personagem.

      Quanto a mestres sádicos, fica complicado. Se esses personagens são mortos indiscriminadamente, os jogadores gastarão pouco tempo se envolvendo com eles.

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  2. Além do que, ao invés do personagem ser órfão, a relação com a família pode simplesmente não ter peso narrativo o tempo td. Nos filmes do Conan estamos habituados a ver ele como órfão, mas há uma história em quadrinhos aonde ele volta pra sua vila natal na Ciméria e acaba se deparando com um clã rival de sua família no poder e que fez de sua irmã uma escrava.

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    1. Bem lembrado, caro José. Você criou um grupo de aliados que eram seus familiares na nossa campanha de GURPS FANTASY. Eu tentava interpretá-los o mais verossímil possível. Foi uma experiência bem interessante.

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  3. Tema interessante. Sempre encarei (mais por falta de reflexão do que por achar que tinha uma resposta pronta) o background trágico como um tropo implícito no conceito de "herói aventureiro", afinal, é necessário certa falta de vínculos com o passado para fazer com que alguém simplesmente saia vagando pelo mundo, sem um lugar ou pessoas para "voltar".

    No entanto, com o tempo construir personagens de apoio se tornou algo que eu sempre procuro desenvolver e explorar, seja por achar divertido, seja por querer ajudar o mestre a dispor de um "elenco de apoio" para jogar na aventura.

    Acho que meus primeiros passos nesse sentido foi em Vampiro: A Máscara, os Antecedentes praticamente obrigavam e pegar algum nível de Contatos ou coisas parecidas. A desvantagem de GURPS neste sentido era que, diferente do que acontece em VaM que bastava gastar pontos, o jogador precisa "construir" a Vantagem, o que poderia poder um pouco o ímpeto do jogador de criar personagens de apoio.

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    1. Mike, concordo contigo! Vampiro e GURPS são livros que acabam estimulando a criação de laços sociais entre os personagens.

      Muito legal sua atitude em criar personagens de apoio para que possam ser utilizados pelo mestre nas aventuras. Facilita muito o nosso trabalho e deixa a história mais coletiva!!!

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