Eva Cruz Andrade em... É pro fantástico?!?

A blogueira de Livro dos Espelhos

- por Filipe Lutalo

Caros rpgamers, hoje trazemos para vocês Eva Cruz Andrade, blogueira do Livro dos Espelhos, rpgista e muito mais.

RPGames Brasil: Quem é Eva Cruz?

Eva Cruz: Eva Andrade? Só uma sonhadora. Um tanto workaholic, mas sonhadora.

R.B.: Quando começou a jogar RPG?

Eva Cruz: Em 1993, no começo das férias de verão, um cara apareceu com um GURPS, se não me engano, e botou a molecada pra jogar.

R.B: Quais sistemas estão jogando atualmente? Qual o sistema mais curte jogar e porque?

Eva Cruz: No momento estou jogando Ascension (ah vá, é mesmo?), D&D 3.x e Numenera. Sou bastante viciada em Lobisomem: O Apocalipse.

R.B.: Conte-nos um pouco sobre o Minas de Moria. Como surgiu? Qual o seu objetivo?

Eva Cruz: Surgimos do grupo Mulheres RPGistas, que já é um refúgio secreto para mulheres simplesmente exaustas de todo o machismo pelo qual temos passado nos grupos de RPG. Foi uma reação natural depois do que alguns chamam de “peitogate”, e de todo o fuzuê que se seguiu. Nosso objetivo é muito simples – queremos jogar RPG, sermos tratadas como jogadoras de RPG, sem sermos diminuídas, ofendidas ou agredidas apenas por sermos mulheres.

R.B.: Vocês organizaram dois eventos focados no público feminino. Como surgiu a ideia?

Eva Cruz: Mais que uma ideia, vimos uma necessidade, sabe? Quantas mulheres na organização de eventos de RPG nós tínhamos até que nós inventamos de juntar um monte de mulher para organizar um evento de RPG? Ai só cabe uma pequena correção – o foco de nenhum dos dois eventos era o público feminino. O foco era o público RPGista que simplesmente não fecha com machismo. O encontro é DAS mulheres RPGistas, não DE. Existe uma diferença ai – estamos apenas organizando eventos de RPG como gostaríamos; que os eventos fossem com participação unâime. Queremos mostrar que mulheres podem ser boas organizadoras, que sabemos desenvolver atividades voltadas ao RPG, e que é ridículo só nos convidarem, apenas, para falar de “Mulher no RPG” apenas e nada mais, sabe? Nós jogamos, mestramos, produzimos, criamos... é injusto que nos deixem de lado na hora de pensar em eventos, em dar visibilidade para quem está fazendo o RPG acontecer. O Encontro das Mulheres RPGistas, que vem se fortalecendo a cada ano, é o espaço para que mulheres possam construir evento de RPG aberto para todas as pessoas, nada além ;)

R.B.: Como atrair mais o público feminino para as mesas de jogos?

Eva Cruz: Não desmerecendo nossos desconfortos, nem nos tratando diferente apenas por sermos mulheres. Não zombando, nem agredindo nossos personagens, de um jeito que soaria ridículo se fosse com os personagens dos jogadores homens. Não nos cantando nas mesas de RPG, nem nos tratando como “namorada do mestre”. Enfim, nos tratando como gente tenho certeza de que é um bom começo.

R.B.: Conte-nos como foi organizar o 2° Encontro de Mulheres RPGistas?

Eva Cruz: Tem sido um aprendizado incrível. Desde a localização do espaço perfeito, até descobrirmos o que poderia ser legal para o público, viabilizar o evento financeiramente... tem sido simplesmente maravilhoso poder contribuir ainda mais com o RPG!

R.B.: O que vocês aprenderam com esse evento? O que ele foi diferente do primeiro?

Eva Cruz: O primeiro evento era, desde a sua superfície, mais claramente político, com a roda de conversas entre mulheres para trocarmos experiências de violências e opressões, abusos e desrespeitos sofridos em espaços do RPG. O segundo, embora jamais tenha perdido de vista o caráter político, que está em nossa raiz, teve uma aplicação mais prática. Decidimos por pegar toda a revolta e transformar em desejo inabalável de contribuir com o RPG nacional, difundir nosso hobby e a tornarmos os espaços dele mais igualitários para todas as pessoas.

R.B.: Acompanho a sua time line e vejo você sempre postando sobre casos de agressão a sua privacidade e a sua pessoa. Como isso começou e por quê?

Eva Cruz: Começou quando, no Livro dos Espelhos (que na época ainda se chamava Book of Mirrors) revelamos quem éramos na equipe do site. Ao longo dos anos, conforme o Livro foi ganhando popularidade, as agressões foram aumentando, e explodiram quando dei o espaço para a carta coletiva das Mulheres RPGistas, que foi uma produção coletiva e norteou o 1º Encontro. Por quê? Bom, as ofensas são, basicamente, contra meu gênero, minha aparência física e traços raciais, além de marcadores sociais de origem, por assim dizer.

R.B.: O sexismo hoje é uma barreira para o desenvolvimento e a difusão dos jogos?

Eva Cruz: Sim. Se nos games digitais mulheres já ultrapassaram os 50% de jogadores, por que ainda temos dificuldade em trazer e manter mulheres no RPG? Mas a culpa neste caso não é só, ai, de jogadores homens ativamente machistas. Temos toda uma estrutura social que desestimula mulheres a participar de atividades consideradas mais mentais. É um dos sintomas daquilo que nos afasta, por exemplo, de carreiras científicas e da vida acadêmica. O RPG, afinal, se insere na sociedade, não é uma bolha isolada.

R.B.: Qual a dica que você dá para as mulheres que querem começar a jogar RPG?

Eva Cruz: Divirtam-se! E divertir-se significa não deixar que abusem de vocês, que deixem vocês tristes ou façam com vocês coisas que vocês não querem. Façam amigas mulheres também, é importante uma dar força para outra a ficarmos confortáveis entre a gente!


RPGames Brasil: agrademos a brilhante entrevista que nos concedeu, gentilmente. Desejamos muito sucesso e que tenham muitos sucessos decisivos e poucas falhas críticas. Parabéns!




2 comentários:

  1. Parabéns pelo seu trabalho, Eva. Digo e repito que olhares diferentes sempre agregam ao todo. Por isso é vital fomentar a criação de um ambiente favorável para que mulheres, além de outras minorias, joguem, mestrem e criem em pé de igualdade com os demais.

    Parabéns pela entrevista, Filipe, ela foi muito exclarecedora.

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  2. As palmas são todas para Eva, pela maravilhosa entrevista.

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